quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Incertezas

O toosan tem razão em dizer que paciência é muito importante. Mas demonstrar paciência é fácil, esperar, dar mais tempo para as coisas se resolverem. Acho que a lição mesmo é aprender a lidar com a frustração. Será que eu vim até a Índia pra isso? Aqui em Hyderabad as crianças falam um pouquinho de inglês, mesmo que bem básico, o suficiente pra que a gente consiga se comunicar. Fora daqui não. Não sei o que os caras da AIESEC fizeram pra convencer o cara da ONG a aceitar voluntários, mas o que ele disse pra gente foi basicamente que a gente não tem utilidade direta pra ele. Só o que a gente pode fazer é dar assistência enquanto eles fazem o trabalho dele. Por um lado ele disse que é bom a gente querer ajudar as pessoas no mundo, mas por outro lado ele perguntou pra gente: se vcs não sabem falar a língua local, então o que vcs estão fazendo aqui? A conversa não foi ruim, mas isso foi muito difícil ouvir. O que eu estou fazendo aqui? A mesma coisa que todos os outros voluntários de todos os lugares do mundo que vêm pra cá, e que podem ter uma oportunidade de estar em contato com as crianças daqui, tentando causar algum impacto positivo na vida delas. E porque não pode ter espaço pra mim também? Bom, parecia que a gente tinha especificamente requisitado trabalhar com essa ONG, o que não é verdade, porque não nos foi dada nenhuma opção quanto a isso. Não é que eu não queira. Eu quero viajar, mesmo que seja um lugar pobre, onde seja difícil estar, mas se essa é a realidade da Índia então que seja. A gente enfrenta né? Mas por outro lado eu também gostaria de poder fazer alguma coisa mais diretamente. Isso só indo pra saber o que eu vou conseguir fazer. Parece que a viagem só vai acontecer lá pelo dia 05 de janeiro. Até lá o que fazer? Tentar aprender o básico de Telugu? Estudar cultura híndi? Vejamos se conseguimos arranjar um jeito disso. Visitar as escolas do resto do pessoal. O Sam, o cara da ONG, surpreendentemente, é cristão. Raro, não? Na verdade ele nos deu outra opção, que seria ficar num orfanato que a ONG cuida, a 20 km da cidade, na zona rural de Hyderabad. Que opção escolher? As viagens já estão meio que escolhidas apesar da insegurança que dá de sair pra viajar por lugares mais pobres da Índia. Por outro lado, deve ser uma oportunidade única. Eu já estou decidida nisso, mas apesar de isolado, ir visitar o orfanato também parece bom. Mas tudo bem, acho que há muito o que aprender com o pessoal da ONG, porque pelo menos o pessoal que vai fazer a pesquisa parece saber falar inglês. Aprender sobre o que é uma ONG, sobre o que é uma ONG na Índia. É difícil estar aqui, na incerteza, mas é também uma lição pra vida né? É engraçado como ter a companhia de alguém, que apesar de ter quase a mesma idade que eu, parece ser tão mais ‘inocente’ nos dá forças para ser mais forte do que a gente seria sozinho. Eu consigo estar aqui, mas assim é mais fácil. Assim eu também me sinto mais segura.

Hoje nós passamos a noite na ONG, tem dormitórios nos fundos pros funcionários. Pravína (não sei como se escreve, mas pronuncia assim) é a menina que cuida das coisas aqui. Ela foi muito legal conosco, conversou com a gente. Ela se formou em design de moda, e daqui a alguns meses vai se mudar para o Texas e começar a própria boutique. Os pais dela e a irmã mais velha já moram todos nos Estados Unidos, já faz uns 5 anos. Está trabalhando aqui provisoriamente. O dormitório da ONG não é ruim, apesar de que eu acho que até o pessoal da AIESEC ficou com uma má impressão, porque eles decidiram não trazer as duas egípcias que chegaram ontem. Também não tinha colchão pra elas. Mas esse quarto onde a gente está é velho, mas não está sujo. O chão é de uns azulejos vermelhos bem velhos, que me fazem lembrar da casa de Martins de Sá, com o chão velho e feio. O colchão o Anirudh trouxe da casa dele. Esses colchões são OK, mas estou com os lados do quadril meio roxos porque eles são bem duros. Mas é só nessa parte que incomoda. E talvez eu precise comprar algumas roupas mais quentinhas porque está ficando um pouco mais frio. Me disseram que vai esfriar mais ainda. Aqui tem água quente, embora não tenha chuveiro. Mas mesmo assim, ontem tomei meu primeiro banho quente desde que eu cheguei aqui. Como os chuveiros não funcionam, as pessoas enchem baldes de água e colocam um aquecedor para esquentar, daí tomam banho jogando água com uma canequinha. O banheiro é ocidental, e parece que elas limpam, mas parece que não usam desinfetante nem coisas do tipo. Essas coisas parecem meio culturais. Tem uma rua grande aqui por perto, e é cheia de lixo jogado. Realmente as coisas aqui não são muito higiênicas. Mas parece também que isso é o normal. Voltando ao chuveiro, engraçado como aqui é cheio de coisas que estão lá mas não funcionam. Todos os lugares têm chuveiro, mas não vi nenhum que pudesse ser usado até agora. As portas têm maçaneta com tranca, mas elas não são usadas, você usa fechos tipo de banheiro público, sabe? Aqueles compridinhos que vc empurra uma barrinha pra prender a porta. Todas as universidades aqui dão aulas em inglês. Todo o pessoal da AIESEC estuda em inglês, e o Ani disse que eles fazem isso desde cedo, desde a middle school eles começam a estudar em inglês. Mas acho que isso mostra também como o pessoal de Hyderabad é privilegiado. Aqui em Secunderabad, parece que as pessoas falam menos inglês. E a gente causou muito mais estranhamento andando na rua do que em Hyderabad. Mas umas menininhas vieram falar ‘hello’ pra gente, e saíram correndo quando a Jan fez que ia tirar foto delas. Eram muito bonitinhas, e bem pequenininhas. Realmente crianças são uma coisa especial. Elas não olham com medo ou estranheza, ou desaprovação, só com curiosidade. Dos adultos, alguns olhares foram ruins de sentir. Eu acho que eu preciso superar um pouco o medo de aproximação, sabe, do tipo ter coragem de perguntar as coisas para as pessoas da rua. Mas o fato de serem quase todos homens, e de eu saber que as mulheres muitas vezes têm problemas com os homens aqui, é assustador. Não sei se tudo bem falar com alguém ou se não tudo bem. Aqui é cidade, é diferente de se fosse uma vila né? É como se alguém fosse pra periferia de Sampa, não sei como são as pessoas lá, se são boas, ou se podem querer algum mal. Não sei como me aproximar da cultura daqui. Talvez tenha que ser bem assim, bem aos poucos, devagar. As pessoas ficaram perguntando sobre o choque cultual, se eu me assustei com a aparência da cidade. Mas isso não. Acho que o que é realmente assustador é não saber como me aproximar das pessoas aqui, acho que diferente de todos os outros lugares que eu visitei, eu não me sinto no geral bem vinda. Pelas pessoas com quem a gente entra em contato sim, pela cidade como um todo, não. Vamos ver como continua essa aventura pela Índia a partir de agora.

P.S. Estou um pouco com medo disso porque acabei de descobrir que essa ONG eh aquela que o pessoal das Ilhas Mauricio teve problemas. Eu nao acho que a gente vai ter problemas, mas acho que isso eh meio irresponsavel da parte do pessoal do escritorio. Como eles mandam a gente de volta assim?

P.S.2 Eu quero sair pra passear, mas como o pessoal dah aquelas de daqui a uma hora eu chego, e depois de uma hora eles dizem daqui a duas horas eu chego, eles te deixam sem saber o que esperar e com medo de sair e eles chegarem bem quando vc esta fora porque isso vai querer dizer mais um dia perdido... E a gente ta num lugar que eu nao sei onde eh, e nao eh permanente, e nao sei mais de nada.

9 comentários:

  1. Vai dar tudo certo! Aqui tem muitas pessoas tendo problemas também. Talvez eu esteja na mesma situação que vc em relação a enrolação no trabalho. Mas pelo menos eu estou numa cidade grande, em que posso aproveitar muitas coisas.
    Se vc continuar tendo muitos problemas, vem pra cá!
    Bjs

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  2. Concordo com o Du!
    Se continuar tendo problemas, mude de lugar!!
    A maioria das ONGs na verdade é bem problemática, acho que em todo o mundo =/
    E pelo que entendi o pessoal da Ilhas Maurício falam um pouco de telugo ou não? e mesmo assim tiveram problemas!!
    Bom, tomar banho de caneca pra mi, pra larissa e pra mari já é de praxe =/ muitas vezes esse ano!!
    talvez essas coisas estranhas sejam a mesma coisa quando trouxeram patins de gelo pro Brasil.. Ou simplesmente as pessoas não veem muita utilidade nessas coisas mais modernas.
    Boa Sorte Yuu!!!

    bjs
    Yuri

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  3. Yuubi-chan, não estou gostando do que está nos contando.
    Por via das dúvidas, evite sair muito, evite aproximar-se das pessoas desconhecidas pois como vc mesma concluiu, a cultura é muito diferente e difícil de entender, principalmente se considerar os aspectos religiosos - precisa tomar muito cuidado com comentários ou atitudes que possam ofender os indianos.Fique com os intercambistas sempre, ok?
    Se o negócio lhe parecer incerto, veja se consegue transferência para ficar com o Du, ok?
    Bjos,

    Mãe

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  4. Oi, Filha

    Boa noite, aqui já estamos nos preparando para a noite de passagem de ano... e por aí ?
    Nem sei se essas coisas passem por aí, pois a cultura é outra...
    Filha, vc sabe que aí as mulheres são discriminadas e conseiderada inferiores, portanto pergunte algo sempre em lojas, pois abordar um homem na rua, pode em alguns casos, ser ofensivo( para eles) já que as mulheres por regra não podem se dirigir a eles... procure aprender as regras, e verificar se é possivel identificar as castas, pelas vestimentas, ou pergunte ao que estão lhes atendendo, eles podem dar as dicas...
    Bem se as coisas não se ajeitarem por aí, vc tem a opção de retornar e iniciar algo de novo, não se preocupe demasiado em querer ficar , se não tem nada definido, se tá bagunçado, tome o voo e volte, é melhor que ficar teimando e perdendo tempo, no minimo, vc já conheceu uma pequena parte da India, poderá voltar qdo as coisas estiverem mais organizadas, ou com mais gente daqui.
    No, mais tenha realmente paciencia e aproveite a noite de revellion, boa passagem de ano, e um ótimo 2011, com novas realizaçoes.

    beijos

    pai

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  5. Oi Yuubi, é uma pena essa falta de definição daí , acho que a melhor opção é não esperar muito mesmo, se não resolverem logo sua situação , é melhor voltar como o seu pai está dizendo. A gente está torcendo para tudo dar certo aí ok?
    Tchau .

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  6. Só de ler, me dá calafrios... Mas, vc sabe , eu sou "patife" e , apesar da idade , tem situações que não consigo enfrentar . Concordo com o seu pai: na dúvida , " arranque o carro ".
    Acho que esse país é mto diferente...Sei que a gente tem que levar a vida, dançando conforme a música ... Mas , a música aí é mto estranha e duvidosa .
    Estamos "lançando" bons fluídos pra que vc escolha o que é melhor.
    Feliz Ano Novo !!!!
    Tia Mi

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  7. Faltam pouco mais de 7 horas para a virada do ano em Hyderabad - espero que esteja tudo bem com você e o pessoal do intercâmbio, e que possam comemorar a chegada do Novo Ano tranquilos - todos nós torcemos para que após este período, haja alguma definição, caso contrário, veremos a melhor solução.
    A sua experiência nestes 5 dias está sendo muito diferente do que imaginei - reflita bem sobre todos os conselhos escritos em seu blog, ok?
    Aguardamos ansiosos por notícias!
    Um forte abraço, tenha um Feliz Ano Novo, estaremos com os pensamentos positivos para que tudo dê certo com vc!!!
    Bjos,
    Mãe

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  8. Namastê, CYY!

    Estamos desacostumados com esse ritmo frenético de postagem, bem como o volume de informações, mas melhor assim. 8D.

    Nada nesse mundo é definitivo, saber esperar é importante. Porém saber até quando esperar também. Mais do que ninguém, você saberá até quando.

    Como foi dito antes, o fator cultural é extremamente importante. Como medida de segurança ande sempre acompanhada.

    A tia M diz que não se preocupar com a "recepção calorosa" dos indianos. Eles não são tão sociáveis como os brasileiros (mais um fator cultural).

    A tia M vai tentar entrar em contato com uma amiga e verificar se ela consegue algum contato na Índia para ajudar.

    Muitos abraços saudosos,
    Tia M e Tio J.

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  9. Oi Yuubi!
    Estou comentando só pra dizer que estou acompanhando seu blog, e torcendo por você.
    Bon courage!!
    Alê

    PS: ah, feliz ano novo! =)

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Olá!!! Quem bom que você estálendo o meu blog!! xDDD
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/o/